Andressa Costa

Pensando sobre acessibilidade na internet: uma série

Acessibilidade me foi sempre um tema caro e tem estado ainda mais presente nos meus dias agora, que a empresa em que trabalho busca conformidade com as normas do WCAG 2.1. Nesse momento essa conformidade é ainda um sonho distante e, como memória não é meu ponto forte, vou registrar por aqui os aprendizados dessa jornada. Esta é a parte 1, a introdução.


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Eu sou muito apaixonada pela internet. Se eu quiser agora aprender a fazer pão sírio, eu posso. Posso assistir um vídeo que vai me mostrar o passo-a-passo, posso ler um post que detalhe a receita, se bobear posso até ouvir um podcast que vai me falar sobre como atingir o santo graal do pão sírio, e isso é muito perto de "magia" pra mim. Me parece imprescindível que essa magia esteja ao alcance de todos, independente do formato, meio, localização. A informação precisa ser acessível.

Há pouco mais de um ano tive a oportunidade de falar um pouco sobre acessibilidade num evento local, naquele momento ainda era recente o blackout do reddit e veio a calhar ter um exemplo do tamanho do reddit para dimensionar o problema da falta de acessibilidade.

O “blackout” foi um protesto de usuários do Reddit contra a atualização no preço da API. Um dos efeitos colaterais do aumento do preço da API foi o impacto no desenvolvimento de ferramentas de acessibilidade, que tornavam o acesso e o consumo das informações do Reddit acessível a parte dos usuários. Mais informações no post “Why disabled users joined the Reddit blackout” no the verge.

O reddit não é uma exceção, de acordo com o The WebAIM Million, um relatório anual realizado pela WebAIM que analisa a acessibilidade dos sites no top 1,000,000, 95.9% das páginas não atendem as normas do WCAG, essas falhas podem significar um incômodo ou até mesmo a inviabilização do acesso de parte dos usuários.

95.9%

O WCAG (Web Content Accessibility Guideline) é um padrão que inclui Design, Código e Conteúdo. No futuro ele vai se chamar "Guia de acessibilidade do W3C" o que na minha humilde opinião é uma grande melhora em termos de comunicação, mas isso ainda vai levar um tempo. Nesse momento o WCAG 2.1 é a versão estável e a versão 2.2 é a working draft. O WCAG estabelece princípios, guias, e critérios de sucesso pelos quais podemos assegurar um produto acessível.

Porém, e sempre tem um porém, estar acessível não pode ser confundido com estar usável. É possível seguir todas recomendações e entregar uma experiência de uso ruim, uma coisa não garante a outra (goodreads, tô falando com você). A acessibilidade seria a barra mais baixa a alcançar, a mais básica dentro do "design inclusivo" que abarca também usabilidade e inclusão.

Acessibilidade é sobre remover barreiras de acesso para pessoas com alguma dificuldade de acesso. Inclusão é sobre estender essa lógica para todas as pessoas, isso inclui não apenas deficiências, mas também barreiras de linguagem e socioeconômicas como dispositivos de baixa qualidade e internet lenta. Usabilidade é sobre garantir que os usuários consigam atingir seus objetivos no site/aplicação de forma efetiva e eficiente.

Gosto dessa definição do design inclusivo, ela preenche um gap importante que torna um amontoado de códigos que segue regras específicas em algo que pode ser a solução de um problema.

E para garantir que esses pilares (usabilidade, acessibilidade, e inclusão) estão sendo alcançados, precisamos testar com usuários reais, assistir pessoas reais usando nosso produto, como aponta Sheri Byrne-Haber:

Você pode fingir que não vê, não ouve, ou, que possui tremores. Isto não te dará os mesmos resultados que uma pessoa que não está fingindo mas pode ao menos ajudar a identificar e remover algumas, se não a maioria, das barreiras de acesso.

(tradução livre) — Sheri Byrne-Haber, How to avoid Twitter’s latest accessibility mistakes

O restante dessa série vai focar no primeiro pilar, acessibilidade, mas acho importante que fique óbvio que ele é o primeiro degrau em direção a uma experiência satisfatória.

Na parte 2 vamos falar sobre WCAG, até breve!


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